Por: Thayna Mesquita
Apesar de boa parte de sua vida ter sido acompanhada pelas dificuldades que a tuberculose lhe impingiu – e foi este um dos grandes motivos de inspiração poética -, o pernambucano Manuel Bandeira (1886-1968) alçou espaço entre os poetas mais importantes e um dos grandes escritores nacionais. Bandeira escreveu seu primeiro livro de poesias em 1917, “Cinza das Horas” que é um retrato sentimental de seu estado de espírito daquele momento, envolvido por um clima bastante melancólico. A trajetória literária do poeta se iniciou sob a influência parnasiana e foi gradualmente se convertendo ao modernismo por volta dos anos 20. Em função disso, ele levava consigo os resquícios da tradição clássica mesmo na fase modernista, fazendo uso de sonetos e rimas regulares em suas poesias. Autor de outras obras de destaque como Carnaval (1919), O Ritmo Dissoluto (1924) e Libertinagem (1930), o escritor conquistou uma cadeira na Academia Brasileira de Letras em 1940.
Com receio de morrer a qualquer momento por causa da doença, o sentimento de angústia se refletia em seu estilo de escrita. Seus versos registram o lirismo do poeta que busca traduzir o fluxo de emoções e sensações através da poesia. Retirando inspirações do cotidiano e da efemeridade da vida, Bandeira costumava escrever sobre temas como a infância, a solidão, o amor e a morte. O poeta veio a morrer com 82 anos de idade, após ter escrito uma gama de versos que fizeram de seu nome um dos grandes destaques da poesia brasileira.
Versos ilustrados
Manuel Bandeira teve muitas de suas obras ilustradas por grandes desenhistas e artistas plásticos. A seguir, sem uma ordem rígida estabelecida, é apresentada uma seleção de trabalhos valorosos realizados por artistas que buscavam inspiração no poeta. Imersos pela intensidade poética do autor, os artistas exteriorizam suas impressões sobre os versos por meio de variadas técnicas artísticas.
A Morte
Na primeira delas estão as ilustrações do álbum de 1965, que leva o título de A Morte. Nele, estão reunidos treze poemas escritos à mão pelo poeta, que foram selecionados sob orientação de um dos principais temas de seu interesse. Há sete ilustrações gravadas na pedra litográfica pelo artista plástico baiano João Quaglia. Os desenhos são carregados de turbulência e os traços expressam certo tom áspero e mórbido, que contempla o conteúdo temático dos versos.
Os desenhos marginais que estão dispersos pelas folhas deste álbum são de autoria de Manuel Bandeira. Nesta edição especial, o escritor teve a sua primeira experiência com ilustração e a oportunidade de esboçar seus traços para o público. Essa edição conta com tiragem de cem exemplares numerados, e mais oito que foram reservados para o próprio autor e para os realizadores da edição. A Biblioteca Brasiliana possui em seu acervo o exemplar de número 56.
Opus 10
Outra ilustração encontra-se na edição de Opus 10, publicada em 1952, tida como exemplo de uma fase mais avançada da poesia bandeiriana. Segundo A. C. de Melo, nos versos que compõem esse trabalho, observa-se que a “memória e a morte realmente se cruzam nos poemas, vindo à tona um questionamento sobre a morte da memória e a memória da morte”.
A edição é comemorativa do primeiro aniversário das Edições Hipocampo, e a ilustração é da artista plástica Fayga Ostrower – uma água-tinta a cores. As edições dessa pequena editora artesanal surgiram em 1951, pela iniciativa dos poetas Geir Campos e Thiago de Melo, que pretendiam publicar livros artísticos e singulares. Com tiragem reduzida de 116 exemplares, a edição do acervo BBM é a de número 15.
Alumbramentos
Poemas como “Toante”, “Teresa”, “Namorados”, “Água-Forte” fazem parte desta edição, de 1960. Os poemas selecionados para compor esta coletânea pretendem sintetizar uma homenagem às mulheres. O que há em comum entre os versos selecionados é a demonstração subjetiva e poética da admiração e da contemplação da figura feminina. Os desenhos que acompanham os poemas indicam uma conexão temática e são de autoria do pintor francês Marcel Gromaire, que teve forte influência do expressionismo. A edição teve uma tiragem de 200 exemplares, sendo o da BBM o de número 199.
Pasárgada
Trata-se da décima quarta publicação da coleção criada pela Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, cujo objetivo era produzir edições de luxo e limitadas de grandes escritores e poetas nacionais que fossem ilustradas por notáveis artistas plásticos – entre eles está Candido Portinari, Poty Lazzarotto e Di Cavalcanti. Os poemas da edição foram selecionados pelo próprio autor e entre eles está o famoso poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, que faz parte da obra Libertinagem, de 1930. Nele é evocado um paraíso desejado, onde o eu lírico possa abandonar por um momento a sua realidade e construir a sua própria narrativa. As gravuras deste exemplar foram feitas por Aldemir Martins, renomado pintor cearense. Com tiragem única de 120 exemplares, a Brasiliana possui em seu acervo o exemplar de número 9, dedicado especialmente para José Mindlin.
100 vezes Bandeira
“Antologia de poesias do escritor pernambucano Manuel Bandeira, com ilustrações da artista plástica Renina Katz, é a décima segunda publicação da Confraria dos Bibliófilos do Brasil. (…) A tiragem da presente edição é de 351 exemplares numerados de 000 à 350, assinados pela ilustradora e pelo editor responsável.” (Confraria, 2003). Na coletânea, publicada em 2003, foram selecionados os principais poemas que serviram de inspiração para a ilustradora, que se dedicou exclusivamente aos versos do poeta para sua criação artística. O exemplar da Brasiliana é o de número 002.
Referências
Bandeira, Manuel. A Morte. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
_______. Opus 10. Niterói: Edições Hipocampo, 1952,
_______. Alumbramentos. Salvador: Dinamene, 1960. Desenhos reproduzidos do álbum Gromaire, Les Éditions Braun & Cie., Paris, 1949.
_______. Passárgada. Rio de Janeiro: Cem bibliófilos, 1960.
_______. 100 vezes Bandeira: uma antologia de poemas. Brasília: Confraria, 2003. (Org. Norma Seltzer Goldstein) MELO, A. C. A. de. Jogo de Espelhos. Estudo de Opus 10. In: Traços marcantes no percurso poético de Manuel Bandeira. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005, p. 105-120.
Thayna Mesquita é graduanda em Ciências Sociais pela FFLCH-USP.
Excelente texto. Gostei muito da ilustrações. ENORME BANDEIRA!
Parabéns, a autora Thayná e ao blog!