Por Guilherme Rabelo Fernandes
O primeiro número da revista Floreal foi lançado em 25 de outubro de 1907. A revista era dirigida e editada por Lima Barreto, que era então um jovem com 26 anos e sem nenhum livro publicado. Floreal ganhou apenas mais três números, sendo o quarto e último datado de 31 de dezembro de 1907. Os quatro números estão disponíveis na BBM Digital.
A revista apresentava um design discreto e minimalista, percebido em sua capa. Era o propósito de Barreto que fosse assim, haja vista o seguinte trecho em seu texto de apresentação: “Faltam-lhe nomes, grandes nomes, desses que enchem o céu e a terra, vibram no éter imponderável, infelizmente não chegando a todos os cantos do Brasil; faltam-lhe desenhos, foto gravuras, retumbantes páginas a cores com chapadas de vermelho” (nº 1, 25 out. 1907, p. 3). Outras informações relevantes na capa são o subtítulo “Publicação bi-mensal de crítica e literatura”, evidenciando que a publicação pretendia ser uma revista com textos críticos e originais, além do endereço da redação: Rua de Sete de Setembro, 89, primeiro andar, no Rio de Janeiro. Note-se que, no quarto número da revista, o endereço que figura na capa da revista é Rua General Câmara, 103, um provável indicativo da precariedade do empreendimento, que precisou mudar de endereço muito rapidamente.
Foi nas páginas de Floreal que Recordações do Escrivão Isaías Caminha, primeiro romance de Lima Barreto, ganhou a chance de ser publicado. O primeiro capítulo saiu no nº 1, 25 out. 1907. No mesmo número, foi publicado o terceiro capítulo do conto Dia de Amor, de Domingos Ribeiro Filho, que narra a cena de amor entre Pedro e Vera. Os capítulos anteriores saíram no Correio da Manhã, porém a narrativa foi considerada imoral pelo jornal. Então, em Floreal, o conto de Ribeiro Filho recebe espaço para sobrepujar o conservadorismo editorial do Correio. Por meio de nota, que reproduzimos integralmente abaixo, o editorial da revista faz uso do tom ácido para a crítica do Correio:
“Os dois primeiros capítulos deste conto foram publicados em duas edições domingueiras do Correio da Manhã que não continuou a publicação por tê-lo julgado imoral. Sobre Moral, a redação do poderoso jornal diário tem maiores certezas que o Sr. Poincaré sobre geometria. É um fato notável que registramos para servir aos que entre nós se dediquem ao estudo ao estudo experimental da inteligência.”
O tom ácido foi uma assinatura do editorial de Floreal. Vemos a repetição em um aviso presente no quarto e derradeiro número da revista, sobre os serviços dos Correios:
“Com todo o acatamento, ousamos levar uma pequena reclamação ao Sr. Administrador dos Correios do Distrito Federal. Frequentemente, os exemplares desta revista não são entregues aos respectivos destinatários. Até o dia de hoje, estávamos na convicção que o Correio servia para isso; de hoje em diante, porém, a nossa opinião é outra.”
Para mais informações sobre a revista, leia Floreal: uma iniciativa radical, que faz parte da Seleção – BBM Digital.
Guilherme Rabelo Fernandes é estagiário da BBM e graduando em Letras pela FFLCH-USP.