Editores artesanais: O Gráfico Amador

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Uma editora é considerada artesanal quando suas tiragens são baixas e os processos de impressão não são industriais, trazendo à tona a manualidade do trabalho em cada exemplar. O Gráfico Amador foi uma editora artesanal que existiu no Recife na década de 50, fundada por Aloisio Magalhães, Gastão de Holanda, José Laurenio de Melo e Orlando da Costa Ferreira, e suas publicações são um marco do design editorial brasileiro unido à literatura.

 

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Presentes tipográficos

 

José Mindlin frequentou reuniões do Gráfico Amador e acabou fazendo amizade com um de seus fundadores, Gastão de Holanda. Na ocasião de alguns aniversários de seu amigo e quando sobrava um pouco de tempo, Gastão produzia edições de literatura em impressões únicas ou de baixíssima tiragem. Um desses presentes foi a primeira edição de O amor natural de Carlos Drummond de Andrade, que reúne poemas eróticos. O poeta era conhecido do grupo de editores e só aceitou publicar os textos porque seria uma coisa apenas entre amigos. Mindlin pediu uma edição maior dos poemas, e ele conta que Drummond

não tinha conseguido chegar a uma decisão: ‘Se os publicar agora, são capazes de dizer que sou um velho gaiteiro, mas se deixar para mais tarde, pode ser que eles se tenham tornado contos de carochinha’.”

O livro só foi amplamente publicado cinco anos depois da morte de Drummond, nos anos 90.

 

Em uma entrevista, Gastão diz:

“Imprimi manualmente o livro e o ilustrei com o teste de Rorschach. Porque eu não sou desenhista, não sei desenhar, eu não sou artista plástico, sou um embromador hábil dessas matérias. Essa embromação chega a ponto de você realizar a coisa com gosto e sensibilidade. E não com um traço que realmente seja um traço definido nas artes gráficas. E teve um real sucesso, porque ficou um livro de muito bom gosto, ao lado de um livro inédito de Drummond com poesias eróticas, que ele realmente não permite a publicação, e ele nos deu permissão para isso. E eu fiz essa surpresa a José [Mindlin]”

(catálogo da exposição “O gráfico amador” na Caixa Cultural São Paulo, 2017).

 

O amor natural, Carlos Drummond de Andrade, 1977

 

Anterrosto, ilustração, colofão e dedicatória de Drummond a Mindlin.

 

Recife estrangulado, Gastão de Holanda,1980

 

   

Capa, colofão e detalhe de uma das colagens.

 

Crônica das favelas cariocas, Carlos Drummond de Andrade, 1981

Anterrosto com dedicatória de Drummond a Mindlin e ilustração.

 

Quatro quartetos, T.S. Eliot (tradução de Ivan Junqueira), 1982

 

  

Capa, colofão assinado por Gastão de Holanda e Ivan Junqueira, caixas das edições de Quatro Quartetos e O amor natural.

 

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Obras de referência

 

Gisela Creni, Editores artesanais brasileiros, 2013

Guilherme Cunha Lima, O gráfico amador, 2014

Catálogo da exposição “O Gráfico Amador” – Aloisio Magalhães, Gastão de Holanda, José Laurenio de Melo e Orlando da Costa Ferreira (1954-1961) – realizada na Caixa Cultural São Paulo, de 13 de maio a 23 de julho de 2017.

 

Cris Ambrosio

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